Estudo alerta para os impactos das mudanças climáticas nas florestas
Uma nova análise publicada neste domingo (9) pelo periódico Nature Climate Change sugere que as consequências das mudanças climáticas estão causando a morte de diversas espécies de árvores, levando ao desaparecimento de muitas florestas nos últimos anos.
A pesquisa, realizada pela Instituição Carnegie para Ciência da Universidade de Stanford e pela Universidade do Norte do Arizona, revisou dezenas de estudos científicos anteriores que avaliavam os impactos ecológicos das mudanças climáticas, e classificou-os segundo os efeitos nas comunidades de árvores e outras espécies, os processos ecossistêmicos como um todo, os serviços florestais fornecidos aos humanos, e o clima.
De acordo com a análise, as condições cada vez mais secas e quentes na maioria das regiões do planeta estão levando a ocorrências mais frequentes de, por exemplo, infestações de insetos e incêndios, que podem afetar desproporcionalmente algumas espécies de árvores, ou atingir particularmente certas idades ou tamanhos de árvores.
Em longo prazo, isso pode levar a mudanças nas espécies dominantes de certas áreas, ocorrendo por sua vez uma transição para um ecossistema diferente, como cerrado, pasto ou savana.
E isso não só alteraria ainda mais o clima – já que as florestas são responsáveis por absorver 25% do carbono emitido pelas atividades humanas, que intensifica o efeito estufa –, como também transformaria ciclos hídricos, pluviométricos e de nutrientes do solo, a umidade atmosférica e a evaporação, entre outros aspectos ecossistêmicos.
Além disso, o estudo aponta que mortalidade das árvores também pode causar perdas à indústria madeireira, mesmo com as sementes e mudas não sendo afetadas. E embora a pesquisa não tenha analisado o efeito dessas mudanças em outros produtos utilizados pelos humanos, como frutas ou sementes, ele sugere que provavelmente haverá alterações nesses setores, já que dependem diretamente do desenvolvimento das árvores.
“Esse estudo fornece uma visão geral dos muitos benefícios que as florestas oferecem aos humanos, da purificação da água à regulação do clima. Muitas destas funções podem ser prejudicadas pela mortalidade generalizada das árvores esperada com as mudanças climáticas”, comentou William Anderegg, um dos autores da análise.
Mas Anderegg observa que as conclusões da pesquisa ainda abrangem poucos fatores de alteração das florestas e não explica como as mudanças climáticas poderão agir particularmente nos diferentes tipos de floresta existentes. Além disso, os efeitos nos diferentes serviços ecossistêmicos fornecidos pelas florestas aos seres humanos e os impactos de sua alteração também precisam ser mais estudados.
“A natureza variada das consequências da mortalidade das florestas significa que precisamos de uma abordagem multidisciplinar, incluindo ecologistas, biogeoquímicos, hidrologistas, economistas, cientistas sociais e cientistas climáticos. Um melhor entendimento da mortandade das florestas em resposta às mudanças climáticas pode influenciar o manejo florestal, as decisões empresariais e as políticas”, concluiu Anderegg.
DESERTO VERDE
Na denominada mídia alternativa, rede nacional de computadores, a expressão “deserto verde” obteve um amplo destaque na mídia nacional. Mas, enfim, o que é "deserto verde" e como podemos conceituá-lo para vincular e compreender os assuntos a ele pertinentes?
Possuímos no Brasil como em nenhuma outra parte do mundo, imensas propriedades especializadas no cultivo de um só produto, com alta tecnologia, mecanização - às vezes irrigação e pouca mão-de-obra, devido a isso, dizem orgulhosos que são capazes de conseguir alta produtividade de trabalho. Porém, tudo baseado em baixos salários, uso inapropriado de agrotóxicos e sementes transgênicas.
Já voltado para a exportação, especificamente, para a indústria de papel e celulose, o deserto verde cresce a cada dia devido à produção de eucaliptos e soja, o qual tem se expandido por diversas regiões do país. Referente ao eucalipto, nos dias atuais 100% da produção de papel e celulose possui como matéria-prima de áreas de reflorestamento, sendo que, 65% é eucalipto e 31% de pinus. Todavia, estamos longe de obtermos a tranqüilidade no que se refere à preservação ambiental.
De acordo com a consultora de meio ambiente do Idec, Lisa Gunn, o correto é sempre utilizar madeira de área reflorestada, pois é melhor que derrubar matas nativas, porém, isso não significa que o meio ambiente está protegido. Pois, se o reflorestamento for feito nos moldes de uma monocultura com grande extensão de terras, a mesma não é sustentável porque causará impactos ambientais e sociais, com oferta de emprego escasso e perda da biodiversidade.
Utilizando o argumento de reflorestamento, são criados verdadeiros desertos verdes, para produção de madeira para fábricas de celulose. Sendo o eucalipto a espécie mais utilizada em tal estratégia, o qual danifica o solo de forma irreversível, pois, uma vez plantado não é mais possível retomar a fertilidade da terra e seus minerais. E não podemos deixar de ressaltar que as raízes do eucalipto penetram nos lençóis freáticos, prejudicando o abastecimento de água das regiões, pois cada pé de eucalipto é capaz de consumir 30 litros de água por dia.
È possível encontrarmos em pesquisar realizadas que a monocultura do eucalipto é capaz de consumir tanta água que pode afetar significativamente os recursos hídricos. Segundo Daniela Meirelles Dias de Carvalho, geógrafa e técnica da Fase, organização não-governamental que atua na área sócio-ambiental, só no norte do Espírito Santo já secaram mais de 130 córregos depois que o eucalipto foi introduzido no estado.
Também podemos ressaltar como indicio de devastação e de desequilíbrio ambiental causados pelo plantio de eucalipto o assoreamento dos rios, cujos estão praticamente secos, devido ao consumo excessivo de água pela espécie. Com conseqüência disso, afeta não apenas os animais, mas impede a produção dos alimentos também. As fábricas de celulose estão entre as grandes consumidoras de água, ao utilizarem muitos produtos químicos com função de clareamento da celulose, prejudicando o meio ambiente.
Outro impacto ambiental causado pelo monocultivo do eucalipto é a redução da biodiversidade da flora e da fauna. O mesmo também causa a degradação da fertilidade dos solos, o que exige grandes investimentos para recuperação após a colheita e compactação devido ao uso de máquinas pesadas.
Insegurança para o meio ambiente
Quando as indústrias negligenciam medidas de segurança, elas também ficam vulneráveis a acidentes ambientais graves, como ocorreu a pouco mais de um ano na Fábrica Cataguazes de Papel, em Cataguazes (MG). Ouve um rompimento da lagoa de tratamento de efluentes, o qual provocou o derramamento de cerca de 1,2 bilhão de litros de resíduos tóxicos no Córrego Cágados, que logo chegaram aos rios Pomba e Paraíba do Sul. Tal imprudência atingiu oito municípios e deixou cerca de 600 mil habitantes sem água. Isso também causou morte de peixes, o que deixou a população de pescadores ribeirinhos sem seu principal meio de subsistência.
Vergonha internacional
O estudo e debate em nosso país (Brasil), não surgiu do nada. Tal assunto vem crescendo com o aumento das áreas de eucaliptos, plantadas em terras que em geral são arrancadas a ferro e fogo de seus donos originais pela empresa Aracruz Celulose.
A Aracruz Celulose é líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, fabricando aproximadamente 2,4 milhões de toneladas por ano. Responde por cerca de 30% da oferta global do produto. Seu controle acionário é exercido pelos grupos Lorentzen, Safra e Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo BNDES (12,5%). A mesma dedica-se principalmente à produção e pesquisa de eucaliptos, ela possui plantações nos estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os quais somam aproximadamente 261 mil hectares de plantios de eucalipto.
No Brasil a imprensa preferiu defender a empresa. Na Europa, a família real sueca se sensibilizou com as denúncias sobre as ações da Aracruz Celulose no Espírito Santo. A denúncia foi veiculada na imprensa mundial logo após violenta ação da Polícia Federal contra os índios, em cumprimento a uma liminar da Justiça em favor da empresa. A decisão da Justiça não considerou inúmeras denúncias que lhe foram apresentadas de que a Aracruz Celulose tomou as terras dos índios durante a ditadura militar, e as explora até hoje.
Desta forma, podemos perceber que nosso país em inúmeras vezes fecha os olhos para o que não quer visualizar, ou seja, vê apenas aquilo que lhe é favorável.
A monocultura do eucalipto e sua implicações
RESUMO
O plantio do eucalipto vem se expandindo cada vez mais em nosso país, devido à grande rentabilidade que é capaz de gerar. O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve análise crítica desta cultura, citando e explicando o conceito de deserto verde bem como de monocultura. Explicitamos ainda alguns usos para a madeira do eucalipto, como demonstra um gráfico do ano de 2005 para ilustrar o mesmo. Buscamos deixar claro alguns impactos causados por esta monocultura, bem como deixamos também um espaço para a análise do ponto de vista das empresas que fazem uso do eucalipto, citando o exemplo da Aracruz.
Palavras-Chave: eucalipto, deserto verde, Aracruz, monocultura, celulose.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve análise da monocultura em larga escala de eucalipto, uma prática que vêm se tornando cada vez mais freqüente em nosso país, dada que a rentabilidade dessa prática é altamente lucrativa, principalmente para as grandes empresas que atuam no setor de produção de celulose, exploração da madeira para a fabricação de móveis, bem como sua utilização como lenha ou para produção do carvão vegetal.
Buscamos também fazer uma breve crítica a essa prática por meio da análise de alguns impactos negativos causados por essa cultura, tanto no âmbito econômico, como no social e também no cultural. Ainda tentamos descrever o que dizem as empresas que exploram a madeira para os diversos usos citados, dando a oportunidade de se analisar e tirar suas próprias conclusões sobre o estudo, não se esquecendo, porém que a nossa opinião tende mais para o lado da crítica negativa de tal atividade.
Vamos também, tentar analisar o porque do uso do termo “deserto verde” para designar as grandes plantações do eucalipto, suas implicações, possíveis problemas causados e o porque esse termo tem sido cada vez utilizado com mais freqüência, principalmente pela nossa mídia.
2. A MONOCULTURA E O DESERTO VERDE
O eucalipto é uma planta originária principalmente da Austrália e do continente da Oceania, embora algumas raras espécies sejam de ilhas como Nova Guiné e Timor, além das Ilhas Moluscas (ANDRADE, 1918, p. 3). Sua implantação em outras áreas se deu somente no século XIX, começando pela Europa, passando pelos Estados Unidos e finalmente chegando ao Brasil por meio do Sr. Frederico de Albuquerque, no ano de 1968, no estado do Rio Grande do Sul (ANDRADE, 1918, p.4). Um dos maiores propagadores da espécie pelo país foi A. Pereira da Fonseca, realizando grandes plantações no estado do Rio de Janeiro, com variadas espécies do gênero eucalyptus (ANDRADE, 1918, p.4).
A planta começou a ser amplamente utilizada depois da descoberta de seu valor econômico, e hoje é utilizada como principal fonte de alimentação da indústria da celulose no Brasil, o que acaba por ocasionar grandes discussões e até mesmo conflitos entre proprietários de terras plantadas com o eucalipto e a grande massa de militantes sem-terra. Uma das grandes vantagens do eucalipto e sua rápida difusão, é o fato de a planta ser capaz de se adaptar aos mais diversos tipos de climas, desde locais quentes e secos, como os deserto australianos, à climas muito úmidos e frios, como na Escócia.
O termo deserto verde vem ganhando um grande destaque na mídia, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, devido à grande repercussão que tem causado os atritos que envolvem esse termo. Mas o que afinal define “deserto verde”?
A expressão deserto verde é utilizada pelos ambientalistas para designar a monocultura de árvores em grandes extensões de terra para a produção de celulose, devido aos efeitos que esta monocultura causa ao meio ambiente. As árvores mais utilizadas para este cultivo são sobretudo o eucalipto, pinus e acácia (MEIRELLES, 2006).
Grande parte desta discussão se deve ao fato de as terras utilizadas para o cultivo de monoculturas em larga escala, não atingirem um grande contingente de mão-de-obra humana, já que grande parte destas propriedades são altamente mecanizadas, e quando há o emprego de mão-de-obra esta não é devidamente remunerada. Outro fator que tem importância nessa discussão é o fato dessas culturas serem capazes de absorver enormes quantidades de água, podendo até mesmo ressecar rios e outras fontes hídricas existentes no entorno dessas grandes plantações. Como exemplo disso pode ser citado o estado do Espírito Santo, que segundo Daniela Meirelles Dias de Carvalho, geógrafa e técnica da Fase, organização não-governamental que atua na área sócio-ambiental, só no norte do Espírito Santo já secaram mais de 130 córregos depois que o eucalipto foi introduzido na região.
Figura 1 - Derrubada de Eucalipto
Fonte: http://www.rel-uita.org/agricultura/ambiente/fotos/eucalipto-300.jpg
Este problema é relativamente recente na história brasileira, levando-se em conta que a espécie Eucalyptus não é nativa de nosso país, e tem sido trazida em grande escala para o Brasil com o intuito de ser uma rentável e enorme fonte de recursos, provindos especialmente da exportação da celulose, já que os principais fins para o eucalipto são a indústria moveleira, a indústria de celulose a utilização como carvão vegetal e também como lenha. O gráfico abaixo demonstra como é utilizada a madeira proveniente do eucalipto no Brasil:
3. IMPACTOS NEGATIVOS
Uma série de problemas são gerados devido à exploração de eucalipto em grandes áreas, dentre as quais se destacam as indicadas abaixo:
• Desertificação do clima e de solo: as grandes florestas como as de eucalipto necessitam de uma enorme quantidade de água, para se ter uma idéia, segundo a matéria Deserto Verde (Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.), cada pé de eucalipto necessita, para crescer satisfatoriamente, levando-se em conta o rendimento econômico, de aproximadamente 30 litros de água por dia, o que acaba gerando um grande déficit hídrico nas regiões onde são cultivados, gerando assim certa desertificação da região. Esse é um grave problema, já que muitas plantações são realizadas às beiras de córregos e nascentes de rios, o que acaba por ressecar o solo, como já foi acima explicitado, tomando-se como exemplo o caso da região norte do Espírito Santo;
• Ressecamento do solo e uma maior exposição à erosão: como o eucalipto está sendo plantado visando-se unicamente uma maior viabilidade econômica possível, depois de alguns anos a plantação é cortada, deixando o solo empobrecido e exposto a erosão, causando enormes impactos ambientais na região onde estava sendo cultivada a floresta. Outro problema é que, para se tentar recuperar áreas tão degradadas como essas, são gastas enormes quantias de dinheiro por parte das autoridades competentes;
• Diminuição da biodiversidade: como acima citado, as florestas de eucalipto são cultivadas priorizando somente um retorno econômico. Assim sendo, não são cultivadas juntamente outras espécies de vegetais, o que diminui a diversidade vegetal da região de floresta, já que a mesma também impede que gramíneas e pequenos arbustos cresçam e se desenvolvam, embora quando estejam pequenas, as árvores do eucalipto, não forneçam um bloqueio radiação solar como quando estão grandes. Outro problema é a falta da diversidade da fauna, já que os únicos animais que conseguem sobreviver nesses tipos de florestas são “formigas e caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como abrigo, mas não se alimentam delas)” (QUADRO: impactos da monocultura do eucalipto. Disponível em . Acesso em: 27 de outubro de 2008.);
• Especialização da atividade produtiva: esse problema se deve ao fato de o cultivo de grandes áreas de eucalipto serem dedicadas somente à monocultura e altamente especializada, gerando um grande desemprego em algumas regiões, que chegam até mesmo a perderem suas características culturais, como por exemplo, cita PEREIRA (2006) em um artigo sobre o cultivo de monoculturas na região sul do Rio Grande do Sul, onde cita que:
o avanço da monocultura de eucalipto na metade sul do Rio Grande do Sul deve gerar a ruptura de duas tradições produtivas: a pecuária, realizada principalmente nos latifúndios, e a produção da agricultura de subsistência, realizada nos interstícios das grandes propriedades.
Esse problema pode acabar por gerar um grande impacto social naquela região, que tem como uma das características peculiares a perpetuação de sua cultura, contando inclusive com centros especializados nessa atividade, como por exemplo, os CTG’s (Centro de Tradição Gaúcha). Quando se analisam dados referentes ao emprego de mão-de-obra na plantação de eucaliptos, comparando-a com outros ramos de atividades, chega-se a uma enorme diferenciação. Por exemplo, enquanto para se gerar um emprego no setor de comércios no Brasil, em 2006, segunda PEREIRA (2006, p.11), são gatos cerca de US$ 30.000,00, um emprego no cultivo do eucalipto pode chegar a exigir um investimento de até US$ 3,75 milhões, pela indústria VERACEL. Essa disparidade causa grande indignação por parte de organizações não-governamentais que lutam por direitos trabalhistas, ainda mais quando se é levado em conta a atual situação do emprego no Brasil e a grande diferenciação na qual vivemos.
• Transformação da paisagem: algumas áreas de plantação de eucalipto atingem regiões de ecossistemas em risco, o que acaba transformando a paisagem do local, perdendo estas características peculiares de como já citado, também parte de sua tradição. Estes ecossistemas estão sendo muito ameaçados, já que o poderio econômico de empresas como a Aracruz Celulose, acaba transformando a paisagem natural das regiões de cultivo.
Como um exemplo de estudo de caso, temos um artigo elaborado por PEREIRA (2006, p. 11-12), no qual o autor cita algumas críticas relacionadas à implantação da monocultura do eucalipto da região Sul do estado do Rio Grande do Sul, dentre elas:
• Problemas ambientais;
• Concentração da terra, com expulsão imediata dos agricultores que as venderam. O que mostra que as empresas não querem ficar dependentes de parcerias;
• É mais um obstáculo à reforma agrária naquela região;
• Modelo de concentração da terra, de capital e da renda;
• Modelo exportador, cujos impostos já estão todos desonerados pela lei Kandir, contribuindo muito pouco para os cofres públicos dos municípios e do Estado;
• Não gera emprego;
• Gera vazios populacionais;
• O plantio de culturas anuais em consórcio, com o eucalipto, apregoado pelas empresas, só é possível nos dois primeiros anos, pois nos anos subseqüentes a competição por luz, água e nutrientes, inviabiliza as culturas anuais, e finalmente;
• Os investimentos nas grandes fábricas de celulose estão desvinculados da matriz produtiva já existente, instalada na região.
Essas críticas são defendidas pelos trabalhadores da região sul do estado do Rio Grande do Sul, contando inclusive com o apoio de membros das bancadas na Assembléia Legislativa do estado.
4. AS EMPRESAS PRODUTORAS
O grande destaque dessa indústria de celulose fica por conta da Aracruz Celulose, empresa que está instalada há 35 anos no Brasil e hoje é a principal produtora de celulose branqueada de eucalipto do mundo. De acordo com PEREIRA (2006, p.2):
... cerca de 95% da polpa de celulose produzida no Brasil é destinada ao mercado externo, sobretudo para a União Européia e os Estados Unidos. Nesses lugares, cerca de 80% a polpa importada do Brasil é transformada em papel higiênico e lenços de nariz. O retorno financeiro para a Aracruz é muito alto: em 2003, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 870 milhões, o maior desde sua criação.
O controle acionário é exercido pelos grupos Lorentzen, Safra e Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo BNDES (12,5%). Dedicando-se precipuamente à produção e pesquisa de eucaliptos, a empresa possui plantações nos estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que somam aproximadamente 261 mil hectares de plantios de eucalipto (Deserto Verde. Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.). O grupo Lorentzen se viu obrigado a colocar seu montante de ações à venda depois de uma grande onda de protestos internacionais, principalmente em seu país, depois que denúncias feitas contra a empresa foram amplamente difundidas devido ao fato de a Polícia Federal brasileira ter praticamente massacrado índios que ocupavam terras da Aracruz, no norte do estado do Espírito Santo, depois de a justiça ter dado ganho de causa à mesma em uma ação envolvendo esta questão.
Como mostrado anteriormente existe uma imensa pressão sobre as grandes empresas produtoras de eucalipto, elas são criticadas tanto no âmbito social, como, por gerar poucos empregos e ser um obstáculo no processo de reforma agrária, por demandar grandes áreas de plantio. E críticas de caráter ambiental, vindas principalmente de ambientalistas e organizações não governamentais. Mas, por outro lado as empresas que utilizam o eucalipto como matéria-prima, se defendem de várias formas pregando a idéia de que não fazem mau uso dos recursos naturais e na maioria das vezes agem corretamente de forma a conservar o ambiente.
Para explicitar e demonstrar o “lado” das empresas produtoras será utilizada como exemplo, novamente, a empresa Aracruz celulose, onde mostraremos como, de certa forma ela “responde” as críticas recebidas ao longo do processo de sua produção de papel e como ela trata dos assuntos ambientais.
No âmbito social, a Aracruz em seus princípios, de acordo com seu site oficial, promove a total valorização de seus empregados em um ambiente de trabalho seguro, saudável e motivador, não tolerando qualquer tipo de discriminação, oferecendo oportunidades que leve ao desenvolvimento profissional e pessoal, buscando constantemente a melhoria da qualidade de vida (site: Aracruz).
Outros pontos citados pela empresa na área social seria a de possuir programas de responsabilidade social que dissemina conhecimento e induz o desenvolvimento sustentável das comunidades estabelecendo parcerias, investindo em projetos e apoiando redes de relacionamento com o setor privado, entidades da sociedade civil e setor público (site: Aracruz).
No que se refere ao caráter ambiental a Aracruz alega que as florestas plantadas são de extrema importância como alternativa ecológica para o nosso planeta e o nosso país, uma vez que as florestas plantadas são uma forma de garantir a existência dos biomas remanescentes.
Outra vantagem alegada pela a empresa para a defesa das florestas plantadas seria a de que estas florestas atuam de forma a “seqüestrar o carbono”, removendo gases do efeito estufa, contribuindo para mitigar o efeito do aquecimento global.
A Aracruz também se defende contra as denúncias de que o eucalipto seca a água do solo e degrada o mesmo retirando os seus nutrientes. Na questão sobre o secamento da água no solo a empresa afirma que a planta não resseca o solo já que:
As raízes do eucalipto, assim como as de outras espécies arbóreas cultivadas, como laranja e manga, ficam muito longe do lençol freático. (...) Assim, a água disponível para o eucalipto crescer vem da camada superficial do solo. As florestas plantadas de eucalipto consomem a mesma quantidade de água que as nativas, mas são mais eficientes na conversão de água em madeira, pois crescem mais depressa. O eucalipto consome em média 0,43 m³ de água para produzir 1 kg de madeira. A floresta nativa, 1,3 m³. Além disso, mais água da chuva chega ao solo das florestas plantadas, porque, nas nativas, boa parte da água fica nas copas das árvores. (site: Aracruzresponde).
E quanto ao esgotamento dos nutrientes e degradação do solo a Aracruz afirma que suas plantações são manejadas de forma que não esgotem os nutrientes nem degradem o solo:
Quando bem tratado, o eucalipto não prejudica o solo. As árvores cultivadas pela Aracruz, por exemplo, recebem reforço de calcário, além de reposição de nitrogênio, potássio, fósforo, boro e zinco. São feitas análises no terreno e nas folhas das árvores para garantir a manutenção de um solo saudável e produtivo. Além disso, as cascas, os galhos e as folhas que são cortados voltam para a terra na forma de adubo orgânico (site: Aracruzresponde).
5. CONCLUSÃO
Com isso é possível notar que mesmo com as empresas se defendendo com vários argumentos a favor do uso deste tipo monocultura, alegando que agem com responsabilidade social e atuam de harmonia com o meio ambiente contribuindo para a proteção ambiental(site:Aracruz), é inevitável deixar de lado as críticas negativas, umas vez que fica evidente que a cultura do eucalipto traz prejuízos sociais como por gerar poucos empregos e ser um obstáculo no processo de reforma agrária, por demandar grandes áreas de plantio, levando a formação de grandes vazios populacionais.Os prejuízos ambientais, por mais que as empresas fazem uma propaganda favorável são evidentes, pois nem todas as áreas de cultivo são bem manejadas como as produtoras alegam, e isso gera diversos impactos ambientais negativos, desde na degradação do solo, perda excessiva de água, acarretando em um enorme prejuízo na biodiversidade, tanto da fauna quanto da flora.
E com o aumento constante significativo das plantações de eucalipto no país estes impactos, tanto na área ambiental como na social, cada vez mais facilmente serão notados,e o “deserto verde” cada vez mais característico em nosso país.
6. BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, E. N. de; VECCHI, O. Os Eucalyptos: Sua Cultura e Exploração. São Paulo: Typhographia Brazil de Rothschild & Comp, 1918. 228p.
MEIRELLES, D.; CALAZANS, M. H2O para celulose x água para todas as línguas. FASE, 2006. . Acesso em: 27 de outubro de 2008.
CADERNOS IHU em Formação. A Monocultura do Eucalipto: Deserto Disfarçado de Verde?. Ed. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2008. Disponível em: . Acesso em: 27 de outubro de 2008.
ADITAL Brasil, 2006. Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.
REVISTA do IDEC online. Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.
MOVIMIENTO Mundial por los Bosques Tropicales. Belo Horizonte, 2004. Disponível em: . Acesso em: 27 de outubro de 2008.
AGÊNCIA Brasil de Fato, 2006. Disponível em: . Acesso em: 27 de outubro de 2008.
ECOL News. Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.
ARACRUZ Celulose S/A. Disponível em: . Acesso em: 27 de outubro de 2008.
ARACRUZ Celulose S/A. Disponível em: http://www.aracruzresponde.com.br/site/secoes/index.asp. Acesso em: 27 de outubro de 2008.
Por Rafael Said Bhering Cardoso
Deserto verde
A expressão "deserto verde" ganhou amplo destaque na mídia nacional e internacional, especialmente na rede mundial de computadores, na denominada "mídia alternativa".
O que é afinal o "deserto verde" e como podemos conceituá-lo para vincular e compreender os assuntos a ele pertinentes?
Temos no Brasil como em nenhuma parte do resto do mundo, imensas propriedades especializadas no cultivo de um só produto, com alta tecnologia, mecanização - às vezes irrigação - pouca mão-de-obra, e por isso, falam com orgulho que conseguem alta produtividade do trabalho. Tudo baseado em baixos salários, uso intensivo de agrotóxicos e de sementes transgênicas.
Voltado para exportação, principalmente para indústria de papel e celulose, o deserto verde vem crescendo a partir da produção principalmente de eucaliptos e de soja e tem se expandido por diversas regiões do Brasil.
Com relação ao eucalipto, atualmente 100% da produção de papel e celulose no Brasil emprega matéria-prima de áreas de reflorestamento, sendo de eucalipto (65%) e pinus (31%).
Entretanto, longe estamos de poder chegar à conclusão de que podemos ficar tranqüilos e que há preservação ambiental.
Segundo a consultora de meio ambiente do Idec, Lisa Gunn, utilizar madeira de área reflorestada é sempre melhor do que derrubar matas nativas, mas isso não quer dizer que o meio ambiente está protegido. "Quando o reflorestamento é feito nos moldes de uma monocultura em grande extensão de terras, não é sustentável porque causa impactos sociais e ambientais, como pouca oferta de empregos e perda de biodiversidade".
Sob o argumento de reflorestamento, criam-se verdadeiros desertos verdes de produção de madeira para fábricas de celulose. O eucalipto é a principal espécie dessa estratégia e danifica o solo de forma irreparável: uma vez plantado, não é possível retomar a fertilidade da terra e seus minerais. Além disso, as raízes do eucalipto penetram nos lençóis freáticos, prejudicando o abastecimento de água das regiões. Cada pé de eucalipto é capaz de consumir 30 litros de água por dia.
De acordo com algumas pesquisas científicas, a monocultura do eucalipto, por exemplo, consome tanta água que pode afetar significativamente os recursos hídricos. Segundo Daniela Meirelles Dias de Carvalho, geógrafa e técnica da Fase, organização não-governamental que atua na área sócio-ambiental, só no norte do Espírito Santo já secaram mais de 130 córregos depois que o eucalipto foi introduzido no estado.
Outro indício da devastação e do desequilíbrio ambiental causados pelo plantio de eucalipto é o assoreamento dos rios, hoje praticamente secos, uma vez que a espécie consome muita água. A falta d'água não aflige só os animais, como também impede a produção de qualquer tipo de alimento. O amendoim cresce raquítico, o feijão não se desenvolve, o milho não nasce, deixando claro que a improdutividade da terra generalizou-se para além das áreas onde estão as plantações de eucalipto.
O plantio de eucalipto em locais de baixa umidade chegou a secar poços artesianos com até 30 metros de profundidade, deixando a população local sem água. O eucalipto tem alto consumo de água, pois tem uma grande evapotranspiração, podendo ressecar o solo, secar olhos d’água, baixar o lençol freático, secar banhados, diminuir a água dos pequenos córregos e riachos, etc.
As fábricas de celulose são também grandes consumidoras de água, com uso de muitos produtos químicos para o branqueamento da celulose, tendo sempre presente o risco de acidentes ambientais.
Outro impacto ambiental causado pelo monocultivo do eucalipto é a redução da biodiversidade da flora e da fauna. O eucalipto causa também a degradação da fertilidade dos solos, exigindo grandes investimentos de recuperação posterior à colheita e compactação pelo uso de máquinas pesadas.
A mentira da geração de emprego
Pelos dados do IBGE, nas fazendas acima de 2 mil hectares há apenas 350 mil trabalhadores assalariados. Bem menos do que os 900 mil assalariados que a pequena propriedade emprega. Ou seja, o modo de produzir da fazenda do agronegócio, que se moderniza permanentemente, expulsa mão-de-obra do campo, ao invés de gerar emprego aos trabalhadores.
Um recente estudo sobre empregos realizado nas regiões de atuação de uma destas empresas no Estado do Espírito Santo aponta que a Aracruz, na época que buscava financiamento, afirmava que cada hectare de plantação de eucalipto geraria em média quatro empregos diretos, portanto, com seus 247 mil hectares plantados deveria gerar 988 mil empregos. No entanto, gerou apenas 2.031, segundo dados de 2004.
As pesquisas indicam que desde 1989 até os dias de hoje esta empresa gigantesca gerou 8.807 postos de trabalho, dos quais 2.031 diretos e 6.776 indiretos. Chama a atenção que em 1989 os empregos diretos eram 6.058, duas vezes mais que hoje e que desde que se iniciou a contar os indiretos em 1997, o número passou de 3.706 para quase a metade.
Insegurança para o meio ambiente
Ao negligenciar medidas de segurança, as indústrias de papel também ficam vulneráveis a acidentes ambientais graves, como ocorreu há pouco mais de um ano na Fábrica Cataguazes de Papel, em Cataguazes (MG). O rompimento de uma lagoa de tratamento de efluentes provocou o derramamento de cerca de 1,2 bilhão de litros de resíduos tóxicos no Córrego Cágados, que logo chegaram aos rios Pomba e Paraíba do Sul. A contaminação atingiu oito municípios e deixou cerca de 600 mil habitantes sem água. Com a morte dos peixes, pescadores e populações ribeirinhas ficaram sem seu principal meio de subsistência.
Na Ciência vale tudo?
Um dos fatores que fez a grande imprensa ficar raivosa foi a ação das camponesas ter “destruído anos de pesquisa”. E aqui cabe a pergunta: toda pesquisa é para o bem da humanidade? Toda pesquisa é isenta? Seria então errado lutar contra as “pesquisas” levadas a cabo pelo nazismo durante a II Guerra Mundial? Ou então as pesquisas, feitas sem questionamentos por parte dos cientistas, que inventaram a bomba atômica?
No dia-a-dia e bem mais próximo de nós estão as pesquisas, muito modernas, patrocinadas pelas grandes empresas de agrotóxicos e produtos geneticamente modificados. São pesquisas que realmente oferecerão vida melhor para a humanidade ou somente aumentarão os lucros de quem as patrocina? Pesquisas que não levam em consideração o meio ambiente e a soberania alimentar dos povos não são úteis para a humanidade.
Segundo editorial da ONG FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, “o silêncio sobre os direitos e sobre as alternativas produtivas e científicas constitui uma base de apoio sólido para a intenção permanente de criminalizar os sujeitos da emancipação social que, ao defenderem a realização dos direitos constitucionais, são atingidos pelos mecanismos de repressão do Estado”.
Vergonha internacional
O debate sobre deserto verde, no Brasil, não surgiu do nada. É um assunto que cresce assim como aumentam as áreas de eucaliptos, plantadas em terras que em geral são arrancadas a ferro e fogo de seus donos originais pela empresa Aracruz Celulose.
A Aracruz Celulose é líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, fabricando aproximadamente 2,4 milhões de toneladas por ano. Responde por cerca de 30% da oferta global do produto. Seu controle acionário é exercido pelos grupos Lorentzen, Safra e Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo BNDES (12,5%). Dedicando-se precipuamente à produção e pesquisa de eucaliptos, a empresa possui plantações nos estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que somam aproximadamente 261 mil hectares de plantios de eucalipto.
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